quarta-feira, 24 de abril de 2013


AOS OLHOS DA CIDADE ou "POR ENTRE ELA MESMA"

A cidade acordava, ganhava pouco a pouco um ritmo ágil e acelerado, enquanto um turbilhão de pensamentos já rodavam em sua mente.
Para alguns, a noite teria sido curta ao extremo, mas ela... Ela pensou como longa demais... assim como o dia anterior.
O dia anterior havia começado com o frio de um outono ensolarado... Quase uma antítese: o frio de uma manhã ensolarada.
As pessoas que iam e vinham, mesmo num feriado, o café que aquecia o peito, o tilintar das xícaras na padaria e o burburinho ao longe... imperceptível decifrá-los.
Levantar, pagar a conta: Obrigada, volte sempre! O sorriso da balconista. O que esconderia aquela mulher? Quais seriam suas vontades atrás daquele balcão?
Passos, ganhar a rua, o trajeto de volta... O que há neste mundo? Seria apenas o que um cansado olhar pode captar?
Queria mais... Queria além... mas o quê, afinal?
O cão atravessava o destino... Ou seria apenas a rua? Assim como nós: a rua ou o destino?
Alguém poderia respondê-la?
As crianças pensavam nas pipas que soltariam mais tarde. Saudade. Era tão bom o tempo em que a maior preocupação seria o melhor momento para colorir o céu com as pipas.
"E assim é a infância: como pipas a rodopiar no céu, mas de repente soltam-se das mãos e ficam apenas os coloridos em nossas mentes"...
Buzinas, sinal, atenção! Atenção?! Até quando?
A mulher segurava o vestido que o vento insistia em levantar. Ainda bem que ninguém viu. Afinal, somos todos invisíveis uns aos outros. Até mesmo invisíveis ao amor.
Tentamos nos blindar das dores, dos nãos, de nós e vivemos uma teia superficial, frágil e que não nos protege da dor... pelo contrário, nos expõe mais e mais.
Em casa, o silêncio exterior e o caos giratório dentro de cada um. Ou não. Muitos são fortes... extremamente fortes, mas ela... Ela não era ou simplesmente não fingia uma força que poderia agredir a si e ao mundo.
E cercada de imagens e pensamentos, o dia passou. E a noite inquietante de frio chegava, mantendo aquecida as análises diurnas. E uma nova antítese...
Precisava dormir, mas um novo café fez-se presente. Olhares. a noite longa... "Longa jornada noite a dentro", parafraseando o livro que há pouco vira na estante, em meio aos outros tantos... Assim como nós, na multidão diária.
Resolvera escrever, mas o turbilhão dentro de si... O turbilhão de reflexões, de muitos eus e de outros também.
E a cidade acordava novamente, pouco a pouco ganhava mais ritmo.
A rotina.
Seus olhos já despertos, a alma sonolenta e o tímido sol entre as buzinas e pessoas...
E ela retomava seu destino. Ou seria simplesmente a rua?!
(Francis Paula)



Um comentário:

  1. Lindo, lindo e lindo. Estou perplexo, como? De que maneira? Só você apara acreditar que tenho sabores com as letras, nossa ler você me faz uma curva entre o nada e o talvez.
    Você trata a noite com uma saudade daquilo que eu nunca ouvi, senti, mas sonhei.
    Obrigado por me deixar te conhecer e sonhar.

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