terça-feira, 26 de março de 2013

Até porque o amor também não deixa ser uma caminhada entre inúmeros zumbis...
(Francis Paula)

 

Vivemos num mundo que muitos se perguntam sobre o que é a morte.
Eu prefiro perguntar: Afinal, o que é a vida?...
(Francis Paula)

 

domingo, 24 de março de 2013

Certa vez escrevi que "Entre o ser e o estar permanece o meu coração"...

Hoje reescrevo que "Entre o ser, o estar e o permanecer... Sim, eu TENHO um coração" e o seu interior traz as inúmeras lembranças, amores, imagens, saudades de tudo o que se foi e o que virá...

Entre todos os Verbos Existenciais, Perceptivos, Locativos... Entre toda a Gramática perpassa sangue, vida e sonhos que jamais serão compreendidos ou expressos por qualquer palavra...

Sim, por entre todas as palavras, gramáticas e sentidos HÁ DE SEMPRE VIVER E REVIVER O MEU CORAÇÃO...
(Francis Paula)




sexta-feira, 22 de março de 2013


A VITRINE OU... O QUANTO INVISÍVEIS SOMOS.

Aproximava-se do almoço e apressadamente andava para resolver algumas pendências do dia. Saíra da escola bem rápido, um dois, três quarteirões e estava no centro da cidade... Carros, buzinas, pessoas, uma greve na cidade, os comentários difusos das calçadas, o sol forte e do outro lado da rua observo lentamente uma moça a trabalhar na montagem da vitrine.
De repente tudo ganhou uma outra velocidade, um ritmo diferente e uma câmera lenta tomou alguns instantes do meu olhar...
A moça, num ar entre melancolia e cansaço, retirava e colocava sapatos na vitrine. Por vezes parava, olhava para fora da loja, mas parecia nada observar. Um semblante difuso, assim como muitos que passavam por mim. E eu? Nesse momento eu também olhava para a vitrine, mas para muito além do vidro ou dos sapatos caros.
Observei um pouco mais e surgiu a imagem de uma senhora, mais ou menos sessenta anos, que sempre perambula por aquele lugar... Sim, ela fora abandonada pela família após um derrame e vivia das migalhas de uma sociedade doente que nos abriga.
A senhora olhava a vitrine, na verdade, não olhava, estacionava seu olhar no vidro transparente e também entre melancolia e cansaço, parecia adentrar um universo além dos sapatos que eram expostos. Abaixava a cabeça, olhava os braços, segurava fortemente duas bolsas plásticas e respirava de forma profunda.
Do outro lado da rua, eu continuava a olhar, mas agora para dentro da "vitrine" que há em mim, além do que exponho diariamente para tantos outros olhares difusos, tal como as vozes da calçada.
Três pessoas, a moça da loja, a senhora e eu... Entre nós uma vitrine, um vidro transparente, uma rua, a calçada... Mais do que isso, dores, desejos, segredos, vontades e uma solidão cotidiana...
Seria realmente o vidro invisível? Ou nossos rostos anônimos?
De repente um carro buzina, meio que acordo dessa catarse, olho para os lados... A moça saíra da vitrine, a senhora voltara a andar e eu seguiria meu caminho. Qual caminho?
Isso não importa muito agora, meus afazeres me esperam. Mas e a moça e a senhora? Seguiriam seus caminhos? Quais? Isso também não importaria?
Somos mistérios, somos invisíveis, somos humanos... incompletos e eternamente crianças na frente de uma vitrine... Mesmo que seja a da nossa própria alma.




domingo, 10 de março de 2013


O Céu e o Inferno moram em nós... Acho que jogamos amarelinha pela vida afora...
(Francis Paula)


sábado, 9 de março de 2013

terça-feira, 5 de março de 2013


O VOO DA BORBOLETA

Como professora, confesso que já presenciei algumas situações extremamente emocionantes, mas a que recordo agora... Ah, será inesquecível...
Depois de dois anos numa localidade extremamente complicada, mas enriquecedora no aprendizado com os alunos, fui remanejada para outra unidade de ensino e no meu último dia (dia de recolher pertences e partir), vivenciei uma experiência talvez muito maior do que todas as discussões e trabalhos realizados em sala de aula e muitas vezes, incompreendidos pela organização da escola.
Literalmente, após a despedida dos alunos (dias antes), saí silenciosamente pelo corredor, com meus livros e cadernos, olhei para trás e respirei fundo... Uma confusão de saudade, indignação e o desejo que aqueles meninos que deixei na escola, seguissem seus caminhos com a certeza de que é possível lutar.
Ao chegar no ponto de ônibus, uma senhora e seu filho, pouco mais de seis anos de idade, estavam ao meu lado. Ela, sem uma perna que foi perdida num acidente, via o filho brincar e comentar: "Essa moça foi professora do meu irmão"!
Sorri para os dois e vi que a senhora estava ligeiramente embriagada e dizia que a vida e os filhos eram as únicas coisas que lhe restaram e agradeceu pelo trabalho que havia feito com o filho mais velho... Ela também reclamava da dor e eu a observava atentamente...
De repente, uma borboleta quase branca passou por nós e o menino gritou: "Mamãe, uma borboleta branca! Posso fazer um pedido"?
"Claro, meu filho"!
Ele fechou os olhinhos infantis e tornou a falar... "Já fiz"!
"Qual foi"? - perguntou a mãe.
E o pequeno afirmou: "Eu só queria que você fosse feliz"...
Sem falarmos mais nada, ele tornava a pular e sorrir quando meu ônibus chegou. Acenei, entrei... Sim, aqueles meninos seguiriam seus caminhos... mas o meu trabalho estaria apenas recomeçando num novo lugar...

domingo, 3 de março de 2013

A MENINA QUE TEIMAVA EM SER
(Francis Paula)

"São tempos difíceis para os sonhadores"- dizia a personagem do filme...
- Muito! - eu pensei enquanto desligava a televisão e interrompia aquele correr de imagens que começavam a reverberam em meu interior.
Tempos difíceis... Caminhei até a varanda e me coloquei a observar as luzes ao longe, as casas, os prédios, os carros e as pessoas que passavam.
- Quantos ali pensariam em suas dores? Quantos questionariam sua existência? Quem realmente saberia a diferença entre viver e existir? - nem eu realmente me reconheço pela vida.
As palavras saltavam pelo céu da boca com assombro, um purgar de dores que iriam além do físico e do supostamente imposto como"moral".
De repente lembrei de uma menina que costumava andar sem reparar nas pedras, nos tropeços que poderiam ocorrer pelas calçadas. Ela observava tudo a sua volta, uma eterna descoberta e se porventura caísse e lhe ferisse o joelho, limpava, secava as lágrimas mas, o desejo da descoberta, a confiança no caminho a faziam levantar e seguir.
"A confiança, a esperança no outro... Em qual esquina isso se perdeu"?
A medida que a garotinha crescia, "seres estranhos" surgiam e começavam a ganhar espaço pelas calçadas e o que inicialmente era descoberta ganhou ares de medo e de mera reprodução do real...
Descobrir? Para quê? Era perigoso demais!
Vozes difusas entremeavam sua caminhada e sem perceber, crescia e nasciam dores que sufocavam sua alma...
- Não, eu não quero ser uma cópia! Não, eu preciso descobrir o que sou! - bradava a menina...
E a calçada começou a segurar-lhe os pés!
- Me solte! Deixe que eu siga! O que fiz para que me impeça de andar?!
E o silêncio se prolongava... O tempo fechou e choveu... Choveu muito, dias e anos a fio...
Encharcada de tudo e cercada pelas vozes da mera reprodução, foi silenciada...
E ela crescia... parada... imóvel em si mesma.
Pensei que minhas lembranças parariam aí, mas ao olhar para baixo, na calçada, lá estava a menina e acenando para mim!
- O que faz aí? - perguntei.
- Não acredito que ainda não percebeu? Estou esperando por você todo esse tempo.
- Eu? O que posso fazer? Nem sei quem você é?
- Como não sabe? Em qual esquina me deixou sozinha? Não se lembra? E o joelho esfolado? As pedrinhas que chutávamos pelas ruas?
Um calor ruborizou-me a face.
- Venha! Esqueça as vozes difusas, as regras, as cópias! Desça e nos resgate, Eu ainda não sei quem sou, mas qual o problema nisso? - ela sorriu e acenou novamente.
Sem muito pensar, desci as escadas e ficamos frente a frente. A abracei e um calor nos tomou os corpos. Ela segurou minhas mãos e tomou-me pelo caminho.
A lua iluminava a calçada, ainda difusa, as vozes ainda existiam mas, pouco me importavam agora.
De repente, estávamos novamente juntas, numa só alma e senti meus pés se moverem novamente e segui... melhor dizendo: SEGUIREMOS adiante.
Sim, a menina sou eu e ela é a mulher que me tornei e se os tempos são difíceis para os sonhadores, sonhemos mais, realizemos mais... a caminho do infinito.


Perdeu-se no emaranhado de si mesmo. Era uma grande sala repleta de fios... Fios do passado que o persegue, do presente inacabado e de um futuro tão incerto quanto a porta de saída.
Era preciso tomar o fio condutor de seu caminho... Mas eram muitos. Um labirinto dentro de si mesmo.
Perdeu-se. Clamava por "Ariadne"... Precisava do fio condutor, de um oráculo que mostrasse que o amor é capaz de vencer, afinal.
Não, não,
"Ariadne"! Não corte o fio... Guia-me pelo meu próprio labirinto.
Mas por enquanto, parafraseando o poeta e não a mitologia: "Perdi-me dentro de mim"...
Até qualquer dia, "Ariadne"...





Mulher...
Entre o céu e a terra
o sagrado e o profano
o querer e o não querer
Entre todos os sentidos...
o ventre
o corpo
a alma...
O concreto e o abstrato
o sim e o não.
(Francis Paula)


Em meio aos corpos mudos que ocupam e circulam pelas cidades, 
meu próprio corpo busca as palavras que teimam em arder e 
construir um futuro que a realidade insiste em querer silenciar...
Não, o mundo não pode ser simplesmente um transitar de corpos,
mas sim um confluir de almas e plenos desejos despertos.

(Francis Paula)


Ao rever a belíssima produção "Os fantásticos livros voadores do Senhor Lessmore" lembrei da maior responsável pela minha paixão pela leitura: minha mãe...
Minha mente produziu simultaneamente um filme que resgatou o primeiro livro que ela me presenteou, mesmo distante devido ao trabalho em outra cidade: "História meio ao contrário". E sua voz tão firme dizia: agora vc é uma mocinha e sabe ler... sua avó me contou... Comece! Sinta... irei trabalhar!
Puxa, quantas vezes fiquei chateada porque estava longe, trabalhava em tantas escolas, trazia seus diários para preencher quando vinha nos visitar, cadernos de alunos (sim, naquela época se fazia isso - lá pelos anos 80...)!!!
Eu fazia cara emburrada e minhas avós pegavam docemente minha mão (e de minha irmã também) e nos levavam para brincar, lanchar, conversar... E eu, ah, eu ficava, por um tempo, observando aquela mulher atenta em seus afazeres, tão distante, tão próxima, tão severa e sentia tanto receio de incomoda-la, dizer que te amo, admiro...
Mas as peraltices de criança falavam alto e seguia para perturbar minha irmã!
Os anos passaram, vieram outros acontecimentos, descobertas, novos livros... Ah, Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Machado de Assis, Victor Hugo, Cervantes... Ah, tantos e tantos... Tantos sonhos... E eu continuava a observar aquela mulher, já mais velha, em seus afazeres...
Ela, mesmo severa, olhava e perguntava: o que achou do poema "Toada" de Bandeira? e eu, numa mistura de nervosismo, alegria, admiração e amor (pela poesia e por ela) começava a falar, falar, falar e era observada por vc: mãe!
A partir daí comecei a auxilia-la nos planejamentos e sentia porque ela se debruçava tanto naquele universo... E então, a raiva passou! A saudade jamais, mas aquele ciúme bobo sim...
Hoje, suas limitações físicas, de leitura e até mesmo cognitivas são mal interpretadas por algumas pessoas... Sua dor também é um pouco minha, mas o melhor de tudo é ter total certeza do porquê de tudo aquilo... De tudo o que vivemos.
Para mim, você sempre será aquela mulher altiva, severa e que pela distância observei seu trabalho e dessa forma me contaminou com seu amor pela leitura e pelo trabalho...
MÃE, obrigada... Obrigada por fazer-me PROFESSORA! E mesmo durona, obrigada por fazer-me quem sou: carne e coração! Eu te amo!

Futuro?!
Sim, caminhava sempre em frente, caminhava a olhos vistos,
caminhava rumo ao futuro,
mas...
a vida era uma rua sem saída. E deu-se um ponto final.
(Francis Paula)