terça-feira, 5 de março de 2013


O VOO DA BORBOLETA

Como professora, confesso que já presenciei algumas situações extremamente emocionantes, mas a que recordo agora... Ah, será inesquecível...
Depois de dois anos numa localidade extremamente complicada, mas enriquecedora no aprendizado com os alunos, fui remanejada para outra unidade de ensino e no meu último dia (dia de recolher pertences e partir), vivenciei uma experiência talvez muito maior do que todas as discussões e trabalhos realizados em sala de aula e muitas vezes, incompreendidos pela organização da escola.
Literalmente, após a despedida dos alunos (dias antes), saí silenciosamente pelo corredor, com meus livros e cadernos, olhei para trás e respirei fundo... Uma confusão de saudade, indignação e o desejo que aqueles meninos que deixei na escola, seguissem seus caminhos com a certeza de que é possível lutar.
Ao chegar no ponto de ônibus, uma senhora e seu filho, pouco mais de seis anos de idade, estavam ao meu lado. Ela, sem uma perna que foi perdida num acidente, via o filho brincar e comentar: "Essa moça foi professora do meu irmão"!
Sorri para os dois e vi que a senhora estava ligeiramente embriagada e dizia que a vida e os filhos eram as únicas coisas que lhe restaram e agradeceu pelo trabalho que havia feito com o filho mais velho... Ela também reclamava da dor e eu a observava atentamente...
De repente, uma borboleta quase branca passou por nós e o menino gritou: "Mamãe, uma borboleta branca! Posso fazer um pedido"?
"Claro, meu filho"!
Ele fechou os olhinhos infantis e tornou a falar... "Já fiz"!
"Qual foi"? - perguntou a mãe.
E o pequeno afirmou: "Eu só queria que você fosse feliz"...
Sem falarmos mais nada, ele tornava a pular e sorrir quando meu ônibus chegou. Acenei, entrei... Sim, aqueles meninos seguiriam seus caminhos... mas o meu trabalho estaria apenas recomeçando num novo lugar...

3 comentários: