domingo, 3 de março de 2013

Ao rever a belíssima produção "Os fantásticos livros voadores do Senhor Lessmore" lembrei da maior responsável pela minha paixão pela leitura: minha mãe...
Minha mente produziu simultaneamente um filme que resgatou o primeiro livro que ela me presenteou, mesmo distante devido ao trabalho em outra cidade: "História meio ao contrário". E sua voz tão firme dizia: agora vc é uma mocinha e sabe ler... sua avó me contou... Comece! Sinta... irei trabalhar!
Puxa, quantas vezes fiquei chateada porque estava longe, trabalhava em tantas escolas, trazia seus diários para preencher quando vinha nos visitar, cadernos de alunos (sim, naquela época se fazia isso - lá pelos anos 80...)!!!
Eu fazia cara emburrada e minhas avós pegavam docemente minha mão (e de minha irmã também) e nos levavam para brincar, lanchar, conversar... E eu, ah, eu ficava, por um tempo, observando aquela mulher atenta em seus afazeres, tão distante, tão próxima, tão severa e sentia tanto receio de incomoda-la, dizer que te amo, admiro...
Mas as peraltices de criança falavam alto e seguia para perturbar minha irmã!
Os anos passaram, vieram outros acontecimentos, descobertas, novos livros... Ah, Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Machado de Assis, Victor Hugo, Cervantes... Ah, tantos e tantos... Tantos sonhos... E eu continuava a observar aquela mulher, já mais velha, em seus afazeres...
Ela, mesmo severa, olhava e perguntava: o que achou do poema "Toada" de Bandeira? e eu, numa mistura de nervosismo, alegria, admiração e amor (pela poesia e por ela) começava a falar, falar, falar e era observada por vc: mãe!
A partir daí comecei a auxilia-la nos planejamentos e sentia porque ela se debruçava tanto naquele universo... E então, a raiva passou! A saudade jamais, mas aquele ciúme bobo sim...
Hoje, suas limitações físicas, de leitura e até mesmo cognitivas são mal interpretadas por algumas pessoas... Sua dor também é um pouco minha, mas o melhor de tudo é ter total certeza do porquê de tudo aquilo... De tudo o que vivemos.
Para mim, você sempre será aquela mulher altiva, severa e que pela distância observei seu trabalho e dessa forma me contaminou com seu amor pela leitura e pelo trabalho...
MÃE, obrigada... Obrigada por fazer-me PROFESSORA! E mesmo durona, obrigada por fazer-me quem sou: carne e coração! Eu te amo!

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